570 provas para passar no vestibular
As provas tradicionais são objetos de controle, punição e opressão. Elas
não desenvolvem seres pensantes e críticos, mas forçam a reprodução do pensar
alheio. Aprisionam o desejo de aprender e criam amarras à criatividade.
570 provas* - Este é o número médio de provas que uma criança faz na
Educação Básica - do Infantil ao Médio. Tudo isso para se preparar para o vestibular? 12 anos de tortura por conta de uma única prova? Isso é injustificável.
O desequilíbrio emocional causado pela pressão das provas é desumano.
Já escutei relatos de pais e mães de crianças de 6 ou 7 anos, onde seus filhos choravam copiosamente, por conta de uma prova escolar que se aproximava.
Em contraponto, conheço famílias unschooling, que quando os filhos chegam próximos aos
15 anos e decidem que querem fazer faculdade, eles começam a entender a
estrutura de uma prova tradicional e passam no vestibular. Um processo bem menos sofrido, pois há sentido
na busca daquele saber específico.
Bárbara foi minha aluna do curso de Arquitetura. Uma mocinha linda,
meiga e com muitos talentos.
Essa semana, ela me contou que se transferiu para Pedagogia e
que teria que cumprir uma tarefa para a faculdade: Entrevistar um professor - e
eu fui a escolhida. Quanta honra!
Foi apenas uma pergunta: Como profissional, qual a sua visão sobre a
prática de avaliação tradicional e sugira 3 aspectos que você mudaria no
processo avaliativo atual, para o avanço da educação integral.
Antes de responder, resolvi refletir sobre a pergunta e lembrei-me do recente relato de meu professor Osni, contando das
angustias e choros de sua filha de 8 anos, que tem dificuldade de decorar quais
são os animais invertebrados e se ela não lembrar na hora da prova, terá uma
nota baixa. Quanto peso, quanta opressão e quanta cobrança inútil para uma
menina de 8 anos.
Para responder o questionamento de Bárbara, preciso destrinchar a pergunta em 3 partes:
1 - A minha visão sobre a
prática de avaliação tradicional.
O método tradicional de avaliação, não prova absolutamente nada.
A prática de avaliação tradicional mede a memória dos alunos e a
capacidade de colar.
Enquanto o sistema educacional for fordista, conteudista, fragmentado,
seriado e apostilado, nenhuma avaliação será honesta para medir a aprendizagem.
Como disse Rubem Alves, “O aprendido é aquilo que fica depois que o
esquecimento fez o seu trabalho.” Experimenta aplicar uma prova tradicional de surpresa, 2
anos depois que o professor expôs o conteúdo. Qual será o resultado?
Como disse meu amigo José Pacheco: Aula não ensina, prova não avalia.
2 - Três aspectos que eu mudaria
- Eliminaria 100% das provas tradicionais
- Adotaria
a Aprendizagem por Projetos (uma Metodologia Ativa da Aprendizagem), onde a avaliação aconteceria com o Processofólio, que é um instrumento de registro de todo processo e não apenas do resultado.
- Avaliaria o aprendido e não o decorado. Escrevi um artigo sobre isso: Na escola do futuro NÃO haverá provas. O mais lindo foi ver as várias alternativas de formas de avaliação
que as crianças citaram. E como já dizia Gonzaguinha, eu fico com a pureza das respostas das crianças.
- Falando
- Mostrando
- Explicando
- Desenhando
- Jogando um joguinho
- Construindo um joguinho
- Construindo um joguinho
- Apresentando um seminário
- Apresentando um jogral
- Apresentando um teatro
- Fazendo uma música
- Montando uma maquete
- Fazendo um cartaz
- Fazendo uma exposição
- Fazendo uma exposição
3 – Educação integral
“A Educação Integral é uma concepção que compreende que a educação deve
garantir o desenvolvimento dos sujeitos em todas as suas dimensões –
intelectual, física, emocional, social e cultural e se constituir como projeto
coletivo, compartilhado por crianças, jovens, famílias, educadores, gestores e
comunidades locais.” [Educação Integral]
A Aprendizagem por Projetos é uma metodologia que favorece a Educação Integral.
Para refletir, recomendo a leitura do artigo: Os pais e as notas de seus filhos
*Este
número foi resultado de uma pesquisa informal que fiz com amigos professores.
Perguntei quantas provas os alunos faziam em cada ciclo da Educação Básica (infantil ao médio). O resultado é um número médio, com a função de ilustrar o volume
de provas. Ele varia de escola para escola.
Fonte da ilustração: https://storybird.com/chapters/my-little-puppeteer/1/
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Que achado! Acabo de chegar da Vivência no Âncora e esta pesquisa, mesmo informal, vai para minha monografia de graduação. Obrigado!
ResponderExcluirFico muito feliz com seu comentário. Depois de sua monografia pronta, me envia para eu conhecer seu ponto de vista. Grata.
ExcluirAviso você assim que concluir. Minha monografia é uma transgressão científica, uma rebelião. Até o momento, a orientadora (muito gentil e generosa) Maria Teresa Vianna Van Acker, aceitou sem interferir e ainda disse que "eu trabalhei muito e não preciso de orientação". Que seja!
ExcluirTina, terminei minha monografia. Se ainda está interessada em conhecer meu pensamento, meu e-mail é enioap@gmail.com
ExcluirGrato,
Ênio
Caro Ênio, acabei de te escrever.
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