Eu tenho alunos sinceros
Alunos com lisura de caráter sempre me dão esperança.
Todo semestre escuto muitas histórias de meus alunos. Umas muito tristes e outras alegres.
Todo semestre escuto muitas histórias de meus alunos. Umas muito tristes e outras alegres.
Escuto algumas histórias verdadeiras e outras suspeitas quando a finalidade é justificar o não cumprimento de uma tarefa.
Como fazer uma seleção das histórias verdadeiras,
das suspeitas? Depois de mais de 20 anos lecionando, fica mais fácil detectar
as histórias inventadas.
Minha esperança na humanidade se renova quando me
deparo com alunos sinceros, que assumem seus erros e que percebem suas falhas. Erros e falhas são ingredientes importantes no processo de aprendizagem.
Nosso sistema educacional incentiva o aprimoramento
das mentiras. Criamos gerações de bons embusteiros. O aluno adoece um familiar
e chora ou inventa uma tragédia comovente. Ele pede para o colega colocar o nome no projeto que não fez, ou ele cola
na prova. Este aluno se gaba de ter enganado o professor.
CAUSO 1 – Projeto
fraquinho
Um grupo de alunos, com competencial para fazer o
melhor projeto da turma, se enrolou e acabou me entregando um projetinho.
Eles chegaram encabulados, estenderam um book e logo
falaram: “Prof, estamos com vergonha de te entregar este projeto. Nós
poderíamos ter feito muito melhor, mas nos enrolamos.”
Tão acostumada com montanhas de desculpas
mentirosas, fico muito feliz quando encontro sinceridade em meus alunos e
disse: “Que bom que vocês têm essa consciência. A nota irá refletir o resultado
do projeto e não quem são vocês, então não fiquem chateados com a nota.”
A sinceridade deles não alterou a nota mediana, mas
certamente aquele grupo ganhou meu respeito por ser composto por pessoas
verdadeiras.
CAUSO 2 – Uma
ajudinha extra
Aqueles quatro alunos eram super dedicados, muito
atentos e empenhados em fazer o seu melhor, mas eles tinham uma falha, que eu
só fiquei sabendo no meio do processo de orientação: nenhum dos quatro alunos
sabia operar um programa gráfico.
Em todas as orientações, eles tomavam o cuidado de
gravar o áudio, mas sempre que eu fazia uma orientação sobre os layouts, eles
filmavam minhas mãos apontando o que eu falava. Até o dia que o grupo estava
completo e mesmo assim eles filmaram minhas mãos e eu questionei porque faziam
aquela gravação e de forma natural o grupo disse o nome de um 5º elemento. Ele
não fazia parte do grupo, mas estava auxiliando na montagem das peças gráficas.
Minha primeira reação foi de espanto e claro que eu
contagiei os quatro, que automaticamente perguntaram: “não podíamos ter essa
ajuda?”
Quem criou toda a estrutura do projeto foram os meus
alunos – criação, fotografia, texto e diagramação. Todas as modificações que eu
solicitei, eles cumpriram. O fato de eles terem conseguido uma ajuda para montar
a ideia dentro de um programa gráfico, não tirou o título de autores do projeto
e no final, eles foram indicados entre os melhores.
CAUSO 3 – Ele
se gabava de enganar os professores
Aquele trio de alunos sempre tinha uma boa ideia de
projeto, no entanto nunca trazia a estrutura do projeto conforme solicitado. Contudo
um dos componentes do grupo era bom de papo, o sabichão que vendia qualquer
ideia. Explanava o que seria feito e descrevia em detalhes umas ideias fantásticas.
O que eu faço quando percebo que meu aluno está
enrolando ou tentando me enganar? Normalmente, a saída mais simples é fazer
‘cara de paisagem’, deixar o aluno terminar a fala e, com sentimento de desanimo dizer: “Muito bem, vá em frente”.
De quem é o problema em um processo enganoso? Do enganador ou do enganado?
A quem o aluno esta enganando?
Se o aluno realmente enganou o professor, o problema
é do aluno.
Se o aluno pensa que enganou o professor, mas
simplesmente o professor resolveu fazer cara de que estava acreditando, o problema
também é do aluno.
“O mundo é um grande espelho. Ele reflete de volta o
que você é.” [Thomas Dreier]
Tenho dó dos alunos que acreditam que são os
espertos da vez. Endeusam a malandragem, burlam os sistemas e se gabam de
supostamente enganar seus professores. Enganam a si mesmo.
Link relacionado: A Síndrome do Imperador passou no vestibular
Ilustração: http://revistadonna.clicrbs.com.br/coluna/martha-medeiros-quando-eu-estiver-louco-se-afaste/
Ilustração: http://revistadonna.clicrbs.com.br/coluna/martha-medeiros-quando-eu-estiver-louco-se-afaste/
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