Aprender para fazer OU fazer para aprender – A inovação disruptiva da Aprendizagem por Projetos
APRENDER PARA FAZER é o sistema educacional atual, onde o conteúdo vem primeiro. Um sistema conteudista que tem uma lógica sequencial controlada:
a. O professor planeja a aula e decide o assunto.
b. O professor, como detentor do saber, expõe o conteúdo;
c. O aluno anota no caderno ou fotografa o Power Point;
d. O professor passa exercícios e provas;
e. O aluno que decorou o conteúdo responde corretamente a pergunta e tem
boa nota.
No ‘aprender para fazer’, não há brechas para o erro. O professor expôs o conteúdo e o aluno que reproduzir, irá acertar sempre. O aluno que errar, será punido.
A Viviane Mosé (2013) chama esta educação de “Escola de Massa, Escola como Fábrica, fábrica de pessoas para o mercado. Produz com rapidez em uma linha de montagem, com segmentação e a fragmentação, gerando a falta de noção do todo”.
Paulo Freire afirmou que essa educação bancária era um instrumento da opressão.¹
A narração, de que o educador é o sujeito, conduz os educandos à
memorização mecânica do conteúdo narrado. Mais ainda, a narração os transforma
em ‘vasilhas’, em recipientes a serem ‘enchidos’ pelo educador. Quanto mais vá
‘enchendo’ os recipientes com seus ‘depósitos’, tanto melhor educador será.
Quanto mais se deixem docilmente ‘encher’, tanto melhores educandos serão.
Desta maneira, a educação se torna um ato de depositar em que os
educandos são os depositários e o educador o depositante.
Em lugar de comunicar-se, o educador faz ‘comunicados’ e depósitos que
os educandos, meras incidências, recebem pacientemente, memorizam e repetem.
Eis aí a concepção ‘bancária’ da educação, em que a única margem de ação que se
oferece aos educandos é a de receberem os depósitos, guardá-los e arquivá-los.
Margem para serem colecionadores ou fixadores das coisas que arquivam. (FREIRE,
1983, p. 66)¹
FAZER PARA APRENDER é o sistema educacional reconhecido como inovador (mas é bem antigo), complexo, desfragmentado, sem uma sequencia pré-determinada. Atua no campo da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade. Pode ser chamado de Metodologia do trabalho de projeto, Aprendizagem Baseada em Projetos, aprender fazendo (Learning By Doing), cultura maker, entre outros nomes.
a. O professor é um mediador do conhecimento;
b. O professor provoca a curiosidade dos alunos;
c. O professor não traz respostas, mas instiga a pesquisa e a busca dos
saberes;
d. O aluno é um pesquisador, um desenvolvedor de projetos;
e. O aluno registra evidências de aprendizagem e pode usar um processofólio*;
O filósofo grego Aristóteles disse: “É fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer”.
Uma referência relevante para o “fazer para aprender” foi John Dewey da Escola Nova, movimento que chegou ao Brasil em 1882. Dewey defendia uma educação semelhante ao cotidiano, onde o aluno aprenderia por meio da vivência de casos e projetos reais. As soluções não viriam através do professor, mas sim das descobertas dos alunos.
‘[...] Nos anos de
1915 a 1920. J. Dewey (1916) e W. H. Kilpatrick (1918) tentaram opor à
pedagogia tradicional’ e acrescenta que os autores buscavam: ‘uma pedagogia
progressista, também chamada de pedagogia aberta, na qual o aluno se tornava
ator de sua formação através de aprendizagens concretas e significativas para
ele’. A intenção de Dewey e Kilpatrick ao propor uma pedagogia de projetos
envolvia a transformação do aluno em sujeito de sua própria aprendizagem. A
pedagogia de projetos surge então nos anos 1920, a partir de trabalhos de John
Dewey e William Kilpatrick, e tem sua origem no movimento da Escola Nova”
(BEHRENS, 2014).
Em 1918, o professor de educação William Heard Kilpatrick (Teachers College, Columbia University) escreveu no artigo ‘O método de projeto’, que o termo não foi inventado por ele, e está em uso faz muito tempo, desta forma, percebemos que em 1918, a Aprendizagem por Projetos já era considerada uma metodologia em estudo. Hoje a Aprendizagem por Projetos é classificada como inovadora e uma Metodologia Ativa da Aprendizagem - (o termo da moda).¹
A aprendizagem é um processo coletivo e colaborativo que se constrói durante o fazer e suas relações. Thiago Almeida escreveu uma matéria muito instrutiva sobre Aprendizagem Baseada em Projetos, que para entender o ‘fazer para aprender’, destaco um trecho:
Normalmente uma
pessoa é convidada a realizar um projeto quando possuí competências para tal,
adquiridas previamente, e que serão utilizadas no decorrer do processo. No caso
da aprendizagem por projetos, o objetivo é inverso. O estudante não possui as
competências necessárias para realizar o projeto, e precisará, justamente,
desenvolvê-las durante o processo, para que seja capaz de entregar o produto ou
artefato demandado pelo professor.
Portanto, o projeto
se transforma em um recurso de aprendizagem, onde o objetivo não é a entrega do
produto ou artefato, mas sim o processo de aquisição de conhecimentos,
habilidades e atitudes necessários para se chegar no resultado final.
A metodologia de
projetos inverte a lógica do modelo instrucional, onde o ponto de partida é o
currículo e o planejamento do professor. Na aprendizagem por projetos, o ponto
de partida é o interesse do estudante, e, a partir dele, o professor fará o
currículo surgir durante o processo. ²
No ‘fazer para aprender’, o erro faz parte do processo de aprendizagem. O aluno pode errar várias vezes até encontrar um caminho para solucionar o problema do projeto que está desenvolvendo.
Faz tanto tempo que aplicamos a metodologia da educação tradicional e conteudista no Brasil, que até podemos esquecer que há várias outras formas de fazer educação.
- Mas por que pensar educação de outra forma, se
sempre foi assim?
R.: Sempre foi assim e sempre estivemos entre os 10 piores países do mundo em educação. Estamos entre os 10 piores países do mundo exatamente porque sempre foi assim.
- De outra forma dará certo?
R.: A educação tradicional e conteudista já foi bem
testada e é certo e comprovado que ela não funciona faz muito tempo. Para
completar, a educação tradicional não tem embasamento teórico, legal e
científico. Isso quer dizer que todos os teóricos da pedagogia e da andragogia,
tem propostas diferentes, também testadas e comprovadamente mais eficientes.
A educação alicerçada em aprender para fazer, com um volume de conteúdo absurdo, com saberes fragmentados e desconexos, precisa ser transformada em um processo de aprendizagem significativa, com aplicabilidade, de saberes complexos, desfragmentados, que gere competências e habilidades, e que desenvolva o pensar autônomo, crítico e criativo.
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