Por uma nova forma de ensinar
Idealizador da Escola da Ponte critica
maneira como tecnologia é usada em sala e chama de "miserável"
formação de professor no Brasil
Eduardo Vanini - O Globo Educação - http://oglobo.globo.com/educacao/por-uma-nova-forma-de-ensinar-6766027
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O educador português José Pacheco, ex-diretor da Escola da Ponte, onde não há provas nem divisão por séries: “É preciso uma ruptura, em busca de uma nova escola” fotos de divulgação |
Rio - Não existe um modelo padrão de ensino. Cada
escola deve se organizar para atender a seus alunos. Quem defende a ideia é o
educador José Pacheco que, por mais de 30 anos, dirigiu a inovadora Escola da
Ponte, em Portugal, onde o aprendizado é pautado pela confiança entre estudante
e professor: não há salas de aula tradicionais, grade curricular ou provas. Os
bons resultados da instituição dão a Pacheco autoridade para questionar o
método de ensino atual. Na era das redes sociais, ele defende o
compartilhamento do conteúdo escolar pelos alunos, levando a uma construção
coletiva do saber. O educador também classifica como “miserável” a formação dos
professores no Brasil.
— Nada acontece de diferente quando a
teoria antecede a prática. É preciso uma ruptura com os modelos convencionais,
em busca de uma nova escola, que se organize em torno dos valores que unem as
pessoas atendidas. A escola não é um edifício, mas um espaço social — comenta o
português, que participará do Conecta, evento sobre novas tecnologias e
educação, que ocorre quarta e quinta-feira, no Rio.
Pacheco é um dos idealizadores da
Escola da Ponte, na pequena Vila das Aves, a 30 quilômetros do Porto. Na
instituição, os alunos se agrupam de acordo com sua área de interesse. Não há
divisão por séries. Monitorados por professores, o estudante faz seu plano de
metas baseado no conteúdo sugerido pelo Ministério da Educação. A metodologia
ganhou fama global. Encantado, o escritor e educador Rubem Alves escreveu
trabalhos como “A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse
existir” (2003). Cerca de cem instituições no Brasil mudaram para, de certa
forma, seguir o exemplo.
O próprio Pacheco está envolvido numa
iniciativa que segue essas premissas, em Cotia (SP). Com 440 alunos, cujas
famílias têm rendas de até três salários mínimos, o Projeto Âncora serve ao
pré-escolar e ao ensino fundamental, sem turmas definidas. O aprendizado se dá
conforme o interesse dos alunos, que assimilam o conteúdo e o compartilham no
ambiente escolar.
— É um trabalho de formiguinha. Na
implantação do projeto, rejeitamos tudo que não interessa. Aulas e séries são
um obstáculo para o crescimento humano — diz ele.
Os resultados, segundo Pacheco, são
animadores. Alunos marcados pela exclusão recebem atenção que nunca tiveram. Em
seis meses, crianças analfabetas aprenderam a ler, e os professores embarcaram
na novidade.
Mas o educador se mostra preocupado com
o quadro geral do ensino no Brasil e no mundo. Na opinião dele, os métodos em
voga estão obsoletos desde o fim do século XIX.
— Basta dizer que, no Brasil, esse tipo
de educação dá origem a 24 milhões de analfabetos funcionais. Não adianta ser a
sexta economia do mundo, quando se ocupa os últimos lugares em rankings de
educação — critica Pacheco, para quem o despreparo das escolas fica latente
diante de questões atuais como o bullying. — Muitas escolas suspendem ou
expulsam alunos, instalam câmeras de segurança. Deveriam ser adotadas novas
formas de diálogo.
Para resolver esse problema, diz ele, é
essencial investir na formação de educadores:
— A formação de professores no Brasil,
não hesito em dizer, é miserável. Parte de princípios errados, como aquele de
que a teoria pode anteceder a prática. Não adianta colocar jovens na faculdade
e enchê-los com teorias ultrapassadas. Eles perpetuarão esse modelo.
Pacheco diz que a renovação deve
englobar a forma como as recentes tecnologias são aplicadas no ensino. Em tempo
de redes sociais, não basta apenas introduzir computadores e mudar o velho
quadro-negro pelo monitor digital.
— Mesmo nos EUA e na Europa, o modelo
convencional de educação continua. As novas tecnologias contribuem para a
mesmice, quando deveriam proporcionar o compartilhamento de conteúdo entre os
alunos. Se as escolas entenderem isso, podem migrar de um modelo em que os
estudantes são como papagaios repetindo a lição para um ambiente onde ocorra,
de fato, a construção do saber — diz o educador. — Os jovens precisam ser
incentivados a reconstruir uma sociedade doente e usar as tecnologias para
fazer isso criticamente. Noto que essas ferramentas contribuem para que os
alunos se tornem solitários. Isso é uma regressão.
Leia
mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/educacao/por-uma-nova-forma-de-ensinar-6766027#ixzz2ZzBZrr3i
© 1996 - 2013. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.
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Publicado: 18/11/12 - 22h17
Atualizado: 21/11/12 - 12h17
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